quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ela em 1875, é meu espelho de hoje, 2010.

"... Seus olhos já não têm aqueles fulvos lampejos, que despedem nos 
salões, e que, a igual do mormaço, crestam. Nos lábios, em vez do cáustico
sorriso, borbulha agora a flor d'alma a rever os íntimos enlevos.
    Sombreia o formoso semblante uma tinta de melancolia que não lhe é
habitual desde certo tempo, e que não obstante se diria o matiz mais próprio
das feições delicadas. Há mulheres assim, a quem um perfume de tristeza idealiza.
As mais violentas paixões são inspiradas por esses anjos de exílio..."
            
                                                 ...


"... Era uma expressão fria, pausada, inflexível, que jaspeava sua beleza,
dando-lhe quase a gelidez da estátua. Mas no lampejo de seus grandes olhos
pardos brilhavam as irradiações da inteligência. Operava-se nela uma revolução.
O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o coração,
para concentrar-se no cérebro, onde residem as faculdades especulativas do homem.
    Nessas ocasiões seu espírito adquiria tal lucidez que fazia correr um 
calafrio pela medula de Lemos, apesar do lombo maciço de que a natureza
havia forrado no roliço velhinho o tronco do sistema nervoso..."




fragmentos do primeiro capítulo de Senhora, José de Alencar.

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